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Pai das florestas plantadas

Maurício Nogueira é o chefe do viveiro na Reserva Ecológica de Guapiaçu há 15 anos. Quase meio milhão de mudas nativas da Mata Atlântica plantadas em áreas da REGUA passaram pelas mãos de Maurício. Diante deste fato, temos o orgulho de chamá-lo de ‘o pai das florestas plantadas’.

Maurício Noqueira, ‘o pai das florestas plantadas’ –, segura nas mãos uma das mais de 500 mil mudas que passaram por seu cuidado na REGUA, Brasil. Imagem por: ©Micaela Locke

A Mata Atlântica é considerada um hotspot por conter uma rica biodiversidade, inclusive maior que a da Floresta Amazônica, além de um alto grau de endemismo. É também a segunda maior floresta tropical da América do Sul, já que se estende ao longo da costa desde o Rio Grande do Norte até o nordeste da Argentina. Esta floresta também está ameaçada, já que sofreu anos de perda de habitat deixando-a com um tamanho bastante reduzido. Estimativas nos informam que variam de menos de 16% a 7%, dos quais muitos são fragmentos florestais.


A alta bacia do rio Guapiaçu, onde a REGUA está inserida, está coberta por extensiva floresta em topos de morros íngremes, assim como pequenos fragmentos de florestas em sua baixada. Logo, um dos nossos objetivos é reflorestar o máximo que pudermos, e quando possível, reconectar fragmentos florestais ao principal bloco de floresta.

A REGUA já plantou um pouco mais de meio milhão de mudas desde 2004, reconectando fragmentos de florestas isolados e reflorestando 384 hectares de terrenos degradados no Vale do Guapiaçu. Imagem por: ©Barry Yates.

O programa de reflorestamento começou em 2001, com os primeiros plantios feitos em 2004. Desde então, a REGUA já reflorestou em torno de 340 hectares e plantou aproximadamente 550 mil mudas, das quais 300 mil começaram a ser plantadas a partir de 2012 em parceria com o Projeto Guapiaçu, programa financiado pela Petrobrás Socioambiental. O viveiro foi construído em 2005 e gradativamente foi crescendo até poder acomodar 20 mil mudas por ano. Em 2012, após um rearranjo e mudança de espaço físico do viveiro, a produção anual de mudas também aumentou. O número de mudas produzidas no viveiro a partir da parceria com o Projeto Guapiaçu tem chegado a 100 mil por ano.

Maurício trabalhando no primeiro viveiro com a ajuda dos primeiros voluntários internacionais que vieram à REGUA. Imagem por: ©Lee Dingain.

Maurício da Canceição Nogueira, criado no vilarejo de Guapiaçu, sonhava em ser motorista de caminhão para poder percorrer e conhecer o Brasil por inteiro. Porém em 2001, ele se tornou um dos primeiros funcionários da REGUA e aceitou o trabalho como guarda-florestal. Após 3 anos de trabalho nas matas, abrindo trilhas e avistando espécies ameaçadas e endêmicas como o Muriqui-do-Sudeste (Brachyteles arachnoides), juntamente com o seu colega de trabalho Rildo da Rosa Oliveira, ele passou a ser o jardineiro encarregado da manutenção dos jardins da Pousada e das áreas próximas ao centro de visitantes da REGUA. Paralelamente a este trabalho, Maurício começou a coletar sementes e a produzir mudas para o programa de reflorestamento. À medida que mais áreas iam sendo disponibilizadas para o reflorestamento, suas funções e responsabilidade no viveiro aumentaram.

Maurício arrumando as mudas no viveiro, que atualmente pode produzir até 100 mil mudas por ano para serem utilizadas nas áreas de reflorestamento da REGUA. Imagem por: ©Micaela Locke.

Com vontade de crescer em sua profissão e se tornar um especialista em reflorestamento, Maurício buscou treinamento profissional. Ele atendeu cursos que abordavam temas como coleta de sementes, germinação, produção e qualidade de mudas, espécies importantes para o reflorestamento, além de aprender nomes científicos de espécies. Com a afinidade e o sucesso em produzir mudas e seus cursos completados, Maurício se tornou o chefe do viveiro em 2005, que atualmente tem a capacidade de produzir até 100 mil mudas por ano.

No verão, as mudas precisam ser irrigadas duas vezes por dia, uma árdua tarefa especialmente em tempos de plantio, que exige uma grande produção de mudas diária. Imagem por: ©Micaela Locke.

Cerca de 180 espécies de espécies nativas da Mata Atlântica são produzidas no viveiro. A maioria das espécies são pioneiras, caracterizadas pelo rápido crescimento, intolerantes à sombra e primeiras colonizadoras como o Araribá-rosa (Centrolobium tomentosum) e o Pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha). Outras espécies secundárias, como o Cedro (Cedrela fissilis), também são produzidas, assim como espécies climácicas, características de florestas mais maduras, como o gigante Jequitibá-rosa (Cariniana legalis), a árvore mais alta da Mata Atlântica. Plantar uma variedade de espécies de diferentes estágios de crescimento aumenta a variedade em um reflorestamento e ajuda na sucessão natural. Apesar das espécies pioneiras apresentarem um rápido crescimento, que vai de 1,5 a 2 metros de altura por ano, as mudas de espécies de crescimento mais lento têm vida mais longa e facilmente superam as pioneiras no sub-bosque sombreado, dominando a floresta recém-formada à medida que o dossel se torna mais denso.

A época de plantio na REGUA coincide com a estação chuvosa durante o verão. As chuvas constantes ajudam na fixação e crescimento das mudas. Imagem por: ©Alan Martin.

A maior parte das mudas são produzidas a partir de sementes coletadas na floresta pelos guardas-florestais e pelo Maurício, que mantém registros das matrizes, árvores que são capazes de produzir sementes de boa qualidade, e suas coordenadas geográficas. Algumas sementes são coletadas no chão, porém outras devem ser coletadas da própria árvore, e para isso, Maurício usa a técnica de rapel. As sementes coletadas nos topos das árvores são dispersadas pelo vento, por isso Maurício fez o curso de rapel, no Parque Estadual dos Três Picos, para aprimorar a técnica de coleta de sementes.


Uma vez germinadas, as plântulas são transportadas para sacos de plástico ou tubetes para se desenvolverem e virarem mudas que serão levadas para as áreas de reflorestamento. Maurício rega as mudas duas vezes por dia e a limpeza de ervas daninhas é uma tarefa sem fim, especialmente no verão. Algumas espécies, como a Braúna (Melanoxylom brauna), que são importantes devido à qualidade de sua madeira, são mais sensíveis e exigem um maior cuidado durante seu desenvolvimento. Ver o crescimento dessas espécies traz orgulho para o Mauricio, e ver espécies mais exigentes como a Braúna crescerem, traz uma sensação de dever cumprido.

O plantio requer grande esforço e trabalho em equipe, especialmente porque exige resistência física e poque em geral é feito em terrenos íngremes. Imagem por: ©Nicholas Locke.

Plantar as mudas requer trabalho em equipe. Todo ano durante o período chuvoso, as mudas são transportadas na caminhonete do viveiro até a área de plantio, e muitas vezes, mulas são usadas para levar as mudas até os topos dos morros. É um trabalho que exige resistência física, geralmente no período mais quente do ano, porém aproveitando essa estação chuvosa para que as mudas cresçam rapidamente. A manutenção é essencial pois as principais ameaças vão de formigas, que se alimentam das folhas e podem atrapalhar o crescimento das árvores em formação, controle de ervas daninhas e irrigação em tempos de seca. Contudo, graças à qualidade das mudas e manutenção pós plantio, a REGUA alcançou uma taxa de sobrevivência de mudas de 95%.

Maurício no viveiro da REGUA. Imagem por: ©Micaela Locke.

Essencial ao crescimento profissional do Maurício está a Engenheira Florestal e Mestre Aline Damasceno, que atualmente faz parte da equipe do Projeto Guapiaçu. Ela pode ser considerada a sua mentora pois transmitiu a ele seu conhecimento, experiência e paixão pelo seu trabalho com as árvores. Graças a ela, também, a infraestrutura do viveiro pôde ser melhorada, além dela ter sido instrumental na obtenção de recursos para outros programas de reflorestamento. A fim de incentivar o trabalho de reflorestamento conduzido na REGUA, Aline e Maurício também deram cursos de coleta e produção de mudas para os guardas-florestais da REGUA e guarda-parques do Parque Estadual dos Três Picos.

Maurício tem muito orgulho do trabalho que vem desempenhando na REGUA e fica muito satisfeito com o seu reconhecimento como chefe do viveiro. Com futuras áreas a serem adquiridas pela REGUA, que o Maurício possa seguir com sua belíssima e valiosa contribuição.


Data: 22/06/20







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