Historial de Pesquisa na REGUA
Criar um inventário abrangente das espécies presentes parece relativamente fácil, mas a inacessibilidade de grande parte do terreno e a natureza furtiva de muitas espécies torna difícil o levantamento até dos grupos mais fáceis, como os pássaros. Após dez anos de visitas regulares de observadores de pássaros experientes, novas espécies ainda estão sendo encontradas na reserva, podendo haver mais outras 30 espécies de altitude por descobrir nas áreas mais altas.
Embora muitos visitantes possam contribuir com registros importantes de aves e mamíferos, o trabalho de encontrar e identificar morcegos, anfíbios, répteis, insetos e plantas é deixado essencialmente aos profissionais e estudantes universitários que atualmente são frequentadores regulares da REGUA.
Histórico
A REGUA sempre se esforçou para desenvolver estreitas relações de trabalho com instituições e organismos de Pesquisa e Educação brasileiros para benefício mútuo. A REGUA pode fornecer um ambiente seguro, com hábitats de alta qualidade para a realização de estudos, além de acomodação e refeições quando necessário e apoio logístico de sua equipe. Em troca, a REGUA obtém os resultados e dados publicados do trabalho realizado, os quais melhoram nossa compreensão do meio ambiente e da biodiversidade que estamos protegendo, fornecendo informações para nossos planos de manejo de habitats e espécies.
Após os primeiros levantamentos de aves, a primeira pesquisa científica foi realizada em 2001, quando o Museu de Nacional do Rio de Janeiro nos visitou para realizar um inventário de aracnídeos e ictiofauna. Embora nenhuma nova espécie científica tenha sido descoberta, eles confirmaram que a REGUA continha florestas de alta qualidade e identificaram a reserva como um local adequado para futuras pesquisas.
Em 2002, a REGUA assinou um acordo de cooperação com a Universidade Maria Teresa de Niterói (FAMATh) e a Universidade da Serra dos Órgãos, em Teresópolis (FESO). Durante seu programa de pesquisa de dois anos, a REGUA recebeu mais de 20 estudantes que concluíram seus estudos de Biologia e Ciências Veterinárias (Departamento de Fauna Silvestre) que ajudaram a compilar um inventário de espécies animais usando métodos de campo básicos e baratos, como armadilhas e câmaras fotográficas, redes de neblina e caminhadas básicas de observação. Isso foi seguido em 2002-03 por uma equipe de dois pesquisadores e dois estudantes do FESO que coletaram dados adicionais mensalmente. Os resultados finais foram publicados em duas teses com listas de espécies e sua distribuição geográfica.
Em 2002, foi criado o Parque Três Picos, com 46.000 hectares, e a REGUA imediatamente assinou um acordo de cooperação com o INEA (na época o Instituto Estadual de Florestas (IEF)), permitindo a continuação de todas as pesquisas na reserva. Em 2003, Eduardo Rubião juntou-se à equipe da REGUA para coordenar a pesquisa o que se revelou fundamental para estabelecer a rede de trilhas e treinar os guardas florestais no trabalho básico de monitoramento. Também em 2003, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em conjunto com o Instituto BIOMAS, realizaram as primeiras pesquisas de anfíbios e répteis na REGUA.
Em 2003-04, a REGUA convidou o ornitólogo brasileiro Dr. Fabio Olmos para realizar um levantamento de todas as espécies de aves presentes na reserva. Este estudo confirmou que a REGUA atendia aos critérios da Birdlife Brazil para ser listada como Área Importante de Aves (IBA) com uma extensa lista de aves de alta qualidade e ameaçadas de extinção. Essa pesquisa também ajudou a promover a REGUA como um excelente local potencial para a reintrodução do Mutum do Sudeste Crax blumbachi no estado do Rio. Em 2005, esse projeto de reintrodução recebeu a aprovação do IBAMA e as primeiras 20 aves criadas no Instituto Crax de Belo Horizonte foram liberadas na REGUA em agosto de 2006. Todas as aves liberadas foram equipadas com transmissores de rádio para serem monitorados por Christine Steiner, da UNESP, como parte de um estudo de doutorado.
Em 2007, foram liberados mais 20 indivíduos e um grupo de 20 jacutingas Aburria jacutinga. Embora reintroduções adicionais tenham sido planejadas, a falta de disponibilidade de aves adequadas impediu a conclusão bem-sucedida deste trabalho, embora uma grande quantidade de informações tenha sido obtida, o que sem dúvida beneficiará outros programas de reintrodução de aves no futuro.
A criação, em 2005, dos alagados extensos na REGUA, na antiga Fazenda São José, proporcionou ao professor Tim Moulton, da UERJ, uma excelente oportunidade para monitorar o desenvolvimento e as mudanças na vida e metabolismo aquáticos. Quatro pontos de monitoramento foram estabelecidos para coletar dados pertinentes a mudanças na fauna e flora e na qualidade da água, incluindo condutividade, temperatura, pH e concentração de oxigênio. Também foram realizadas medidas de turbidez, clorofila e luminosidade durante ciclos de 24 horas nos ponto de drenagem das áreas úmidas. Os dados coletados revelaram que a água entrou na área inundada com um baixo nível de concentração de oxigênio (cerca de 10%) e ficou super saturada (cerca de 120%). O estudo também mostrou que durante o período de monitoramento, as espécies de Ephemeroptera, Odonata e Hemíptera aumentaram em diversidade.
Em 2006, Andre Cunha, da UERJ, procurou o Muriqui, Brachyteles arachnoides na REGUA, e teve a sorte de fazer várias boas observações. Em 2007, após novos avistamentos, um artigo foi escrito e publicado na revista científica Neotropical Primates, intitulada Avistamentos adicionais da população muriqui (Brachyteles arachnoides) na Reserva Ecológica de Guapiaçu – REGUA, Cachoeiras de Macacu – Rio de Janeiro, Brasil (Geoffroy, 1806). O Muriqui costumava ser abundante em toda a Mata Atlântica do Brasil, mas agora está listado como ameaçado de extinção pelos critérios da IUCN e acredita-se que este número seja inferior a 1.000 indivíduos em toda a faixa restante. À medida que a REGUA adquire mais terras e a perturbação da caça diminui, o número de avistamentos destes primatas tem aumentado, tornando a REGUA um dos melhores locais para estudar esta espécie rara no Estado do Rio de Janeiro
Entre 2007 e 2011, a reputação da REGUA continuou crescendono meio acadêmico, tendo recebido em média três novos projetos de pesquisa por ano, e três novas instituições (UNIFESO Centro Universitário Serra dos Órgãos; Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Universidade de Leipzig) passaram a estudar na REGUA. A maioria desses estudos se concentrou na fauna de vertebrados (principalmente herpetologia e ornitologia), com estudos únicos de palmeiras e outro sobre a geomorfologia do vale.
O ano de 2012 assistiu a uma explosão da demanda por Cursos profissionais (como os da Selvagem em Foco) e Disciplinas de campo universitárias realizadas na REGUA- 15 notáveis cursos e workshops – e registrou o maior número anual de novos projetos iniciados (oito). Uma prestigiosa instituição que passou a atuar aqui também foi a FIOCRUZ. Também é interessante notar que a variedade de assuntos tem se expandido para a fauna de peixes de água doce, artrópodes (aranhas, besouros, borboletas, formigas, moscas e mosquitos e libélulas), botânica (Melastomataceae, epífitas), ecologia de ecótonos de reflorestamento em parcelas permanentes ao redor das zonas úmidas, estudos baseados em carbono e até projetos em sociologia (o impacto de reservas naturais privadas nas comunidades locais).
Atualmente, alguns desses projetos também incorporaram dados fornecidos por voluntários e visitantes do REGUA, e a maioria das novas espécies de aves são adicionadas por muitos observadores de aves muito experientes que visitam a reserva. Além de vários artigos e artigos publicados em periódicos e revistas, nossos voluntários também contribuíram com a publicação de livros especializados sobre a fauna da região. O primeiro deles, um guia para a identificação de hawkmoths (Sphingidae), foi publicado em 2011, e outros dois livros sobre Odonata e Aves foram publicados em 2015. Disponibilizando mais informações sobre a incrível vida selvagem da área para uma população mais ampla o público é um dos nossos principais objetivos.