No final de 2023, a coordenadora de pesquisa e projetos da Reserva Ecológica de Guapiaçu, Micaela Locke, concedeu uma entrevista para Veronika Perková, jornalista e apresentadora do podcast Nature Solutionaries, que aborda temas relacionados à preservação ambiental.
Na entrevista, Micaela Locke fala sobre a proteção da biodiversidade na Mata Atlântica no Brasil e a criação de um corredor para a vida selvagem através do plantio de árvores provenientes de sementes da floresta tropical circundante.
Confira trechos da entrevista:
A Mata Atlântica raramente chega às manchetes dos noticiários internacionais. E, no entanto, é extremamente importante para a conservação da biodiversidade global. Você pode descrever a importância dela?
Micaela Locke: A Mata Atlântica está entre as florestas biologicamente mais ricas e diversificadas do mundo, com altos níveis de fauna e flora que não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Seu mosaico de diferentes ecossistemas abrange desde florestas úmidas, secas e costeiras até manguezais. A floresta abriga cerca de 20 mil espécies de plantas e 2.100 espécies de aves, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes. Alguns dos animais mais emblemáticos da região, como pumas, jaguatiricas, antas e muriquis, vivem na Mata Atlântica.
Esta incrível biodiversidade está ameaçada. Estima-se que, atualmente, restam menos de 16% da cobertura florestal. Como podemos proteger melhor o que resta e evitar maior degradação?
Micaela Locke: Graças à Lei Nacional da Mata Atlântica, desenvolvida em 2006, a criação de parques, a exploração madeireira ilegal e a caça furtiva diminuíram em todo o país. As pessoas sabem que se cortarem uma árvore serão processadas. Então, acredito que a melhor solução é transformar as florestas remanescentes em parques de conservação ambiental, o que já está acontecendo em todo o Brasil. No estado do Rio de Janeiro, cerca de 30% da cobertura florestal original (1 milhão de hectares) já está legalmente protegida pela Lei Nacional da Mata Atlântica.
A REGUA protege mais de 11 mil hectares de Mata Atlântica na Bacia Hidrográfica do Guapiaçu. Como a reserva conseguiu criar uma área protegida tão grande?
Micaela Locke: Tudo começou com meu bisavô, que se mudou da Alemanha para o Rio de Janeiro, em 1895. Estabeleceu seu negócio (uma fábrica de seda) em Petrópolis e comprou terras na bacia do Guapiaçu. A terceira geração compreendeu a importância de proteger a floresta remanescente dentro da propriedade e decidiu criar uma reserva natural privada, no final da década de 1990.
Qual é o objetivo da REGUA? Quanto vocês desejam expandir a reserva?
Micaela Locke: Queremos dobrar o tamanho da REGUA na bacia hidrográfica do Guapiaçu. Esta área é importante por três razões: é uma bacia hidrográfica vital para 2,5 milhões de residentes da zona leste da cidade metropolitana do Rio de Janeiro, constrói habitat para a biodiversidade e absorve dióxido de carbono para combater as alterações climáticas.
Além de proteger florestas em pé, você também está restaurando florestas que haviam sido anteriormente desmatadas para produção de madeira e agricultura. Qual é a estratégia de plantio de árvores?
Micaela Locke: O objetivo do nosso programa de reflorestamento é criar conectividade entre fragmentos florestais isolados. Basicamente, estamos construindo corredores que permitirão a passagem da vida selvagem e o acesso a outras áreas.
Quantas árvores a REGUA plantou até agora?
Micaela Locke: Desde 2002, plantamos mais de 800 mil árvores. Nossa equipe e voluntários coletam sementes de cerca de 250 espécies nativas da Mata Atlântica durante todo o ano, na floresta da reserva e arredores. Ao longo dos anos, temos aumentado a produção de mudas em nosso viveiro. O viveiro agora pode fornecer cerca de 100.000 mudas por ano.
Quais são suas metas de reflorestamento para os próximos anos?
Micaela Locke: A REGUA pretende plantar um milhão de árvores nos próximos anos na bacia hidrográfica do Guapiaçu. Isto só será possível através do apoio generoso de parceiros como a Saving Nature.
Confira a entrevista na íntegra no site: https://veronikaperkova.com/podcast/
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